quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

um filme

Deitei e dormi com a maior facilidade do mundo, fazia séculos que não dormia, pelo menos não uma noite inteira, dormi em um colchão inflável cheio, mas furado e acordava no chão, minha coluna estava ótima depois, meu braço também estava uma beleza, depois de muita queda de braço, nem estava sentindo dor, imagina, pelo menos ganhei na queda de braço de uma garota que me mete medo pelo tamanho, em compensação perdi das outras, fiquei fraca, e quase ganhei dos assustadores músculos do Bruno. Me fizeram um penteado, bem diferente do que imaginei, mas ficou engraçado, parecia um espeto ambulante. Me tornei uma mergulhadora profissional, tá, nem tanto, mas tentei. Torci muito. Corri. Nunca perdi tantos pertences. Tomei chuva. Conheci uns, me aproximei de outros. Pebolim ou pimbolim? Nunca sei. A comida estava ótima. Rasgaram minha roupa, esses homens de hoje em dia são muito brutos. Descobri que não sei ser romântica, pelo menos não quando não estou apaixonada. Faltou luz e água, choveu, alagou tudo, parecíamos desabrigados, cada um com seu prato na hora das refeições, todos molhados. Minha linda fez 18 anos, responsabilidades agora. Fizemos um cartaz pra ela, com fotos e depoimentos, ela ganhou o presente prometido, a Tchuca, mas não da pessoa que tinha prometido, só queria que não fosse pelo motivo que é. Foi triste em vários momentos, era inevitável, todos tentando se divertir, mas era impossível esconder a falta que ele estava fazendo. Admiro muito a família dele, a força que eles têm está sendo sobrehumana. Surpresas aconteceram, uma pessoa que nunca pensei que ia estar em um lugar como aquele estava, fiquei feliz por ele estar livre e querer mudar, mas eu fico preocupada com o que pode acontecer, ela disse que sou a única que pode entender, ela fez promessas, só espero que ninguém se machuque, mas é ingenuidade minha esperar que isso não aconteça. Ri bastante, eles são bons em fazer isso. Testemunhei momentos macabros, de filme de terror mesmo, senti pavor, fiquei arrepiada, nunca tinha estado presente num momento assim, o pior é que não foi um só. Nunca mudei tão rápido de opinião, em uma noite estávamos reunidas falando mal, revoltadas pelo excesso de regras, horas mais tarde eu desabafando com a Ana, um grito se faz ouvir, saí correndo descalça, olhava para as meninas e vi o terror nos olhos delas, quando entendi o que estava acontecendo chorei, chorei de medo, nos demos as mãos para orar, depois dormir seria impossível, ficamos conversando e percebemos a nossa burrice em julgar daquele jeito. Uma cerimônia por fim seria realizada, agradeci por isso. Horas mais tarde, antes do sol nascer estávamos em pé, todos espiritualmente balançados, mas com o raiar do dia veio a esperança e o conforto, as trevas se dissiparam, e ali um novo começo surgia, muitos abraços, choro, e pedidos para não me desviar do caminho, eu também não quero me desviar, mas sozinha eu não consigo, eu vou precisar de força, isso eu sei. O fim do retiro se aproximou, entrei uma última vez na piscina, estava nojenta. Marina e eu fomos chamando as pessoas para tirar uma última foto, quando vimos havia uma galera nos seguindo. Maria da Toca foi lembrada, tenho orgulho de fazer parte mesmo sendo agregada, virou João da Toca por alguns momentos, a inveja sempre tem que atrapalhar tudo, impressionante. As coisas deram tão errado que no fim deu certo. Não ganhei chocolate, infelizmente, mas foi bom apesar de tudo. Peguei o ônibus, demos tchau, berramos, parecia que nunca mais íamos nos ver, mas era a melancolia do fim, daquele período vivendo como familia, sem me embebedar, sem pegar geral, eu me senti feliz por passar o carnaval assim, não perdi nada. Cheguei em casa, tinham coisas diferentes, árvores faltando, mas não era só isso, parece que eu estranhei a minha casa, toda vez isso acontece, como se eu não pertencesse ali, e não pertenço mesmo. Não foi o melhor, mas foi o mais marcante, de longe. Voltei resfriada, toda vermelha, descascando, cansada e com dor, com todas as minha roupas molhadas e sujas, porém feliz e já com saudade.

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