quarta-feira, 21 de julho de 2010

De todas as cores do arco-íris, hoje sou as cores da minha retina, sou da cor profunda e fechada e das de tom pastel, sem saturação. Abri os olhos no meio da penumbra que é o meu quarto, não é um ambiente muito bom para se conseguir acordar, não no meio de edredons quentes e roupas jogadas no chão, muitas por sinal, mas nem reparo nelas enquanto procuro minhas coisas, sou objetiva, visto a primeira calça, o primeiro casaco e me enrolo em um cachecol qualquer, a única coisa que quero é passar por esse último dia logo. Todos saíram, meu irmão foi fazer mais um exame, dormiu berrando de dor e saiu do mesmo modo, eu não posso fazer nada, só sofrer junto, mas não chega nem perto da dor dele, ele está pele, osso e doença, está definhando, parece que cada dia perco mais dele, tenho medo, muito, não sei se suportaria ver alguém ser arrancado assim de mim de novo. Junto com ele, ela definha também, não tem cura, só unhas se agarrando a vida. Me dói vê-los assim, assombro, mas está tudo guardado, tento atrapalhar o mínimo possível, não precisam disso. Ontem ela chorava, abraços, gritos, meu pai surge, eu me aninho nele, como se eu voltasse a ter sete anos, estrangulo o choro, ele sussurra pra que eu não me preocupe e me esconde embaixo do seu beijo na minha testa, ele estrangula qualquer coisa que esteja emergindo na garganta também, somos muito mais parecidos do que admito em voz alta. Voltando a hoje. Tomo café, ligo a TV e falam do rapaz atropelado, dezoito anos, um bebê, me faz lembrar de fatalidades passadas. Fabricio dorme na sala, sei que a primeira coisa que fará quando acordar é correr pro computador e me apurrinhar para ajudá-lo quando eu chegar, mas sei que vou sentir sua falta quando for embora. Saio, vejo o sol, pensei que demoraria para vê-lo de novo, vento gelado no rosto, uma baforada do céu, dia bonito, mais cores para minha coleção, me insiro no azul imensidão. Chego ao hospício, digo, à escola, arrecado assinaturas, minto deslavadamente para o meu próprio bem, e dou meios-sorrisos, preciso passar uma imagem de estar bem = fingir. Finalmente fim, adeus a todos e até nunca mais, era o que eu queria, mas são só duas semanas, duas semanas eternas, no meio um aniversário que não vou comemorar, queria pular logo pra idade que vou morar numa casa minha, pequena, com o Joe já sem dentes, não oferecendo perigo a ninguém, com minha câmera de estimação e um violão que na minha utopia eu sei tocar, mas a única coisa que tenho é um quarto bagunçado, acho que passou um furacão aqui, não acho meus óculos, não acho meu rumo, não sei nem onde me apoiar, me apoio no divino, uma dose de sanidade.

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