terça-feira, 19 de outubro de 2010

T

E

M

P

O

Temos nosso próprio tempo. Já cantavam nossos poetas.

Cada um possui um tempo, um período. Se assim não fosse viver seria inexistir. Seria rodar e rodar sem encontrar nada, pois é com o tempo que nos desenvolvemos, crescemos na barriga da nossa mãe e enfim, nascemos. Nove longos meses. Tempo. Com mais ou menos um ano começamos a andar. Tempo. Com seis inicia-se a vida de estudante. Tempo. Com doze vem à puberdade, e então a adolescência, maldito período de todas as incertezas da vida sobre você. Tempo. E assim vai, a vida vai passando, coisas vão acontecendo, tudo em um determinado momento. Você segue sua vida, faz faculdade, escova os dentes, mantêm as contas pagas e em um dia qualquer sua mãe morre. Em meio à tristeza e velório você pensa:

- Será que era o momento certo dela partir? - Nunca saberão lhe responder.

Pensa ser injusto. Queria vê-la envelhecer, observá-la sentada em uma cadeira de balanço tricotando um casaco de lã para o seu primeiro neto. Mas não foi assim, o tempo dela acabou.

Poderia ser pior. Pense em uma criança que perdeu sua mãe. Para ela poderá ser mil vezes mais traumático, porém ela irá crescer, amadurecerá mais rápido e saberá lidar com ausências futuras. Em uma primeira impressão parece injusto? Sim, parece. Mas nós, reles mortais, somos tão pequenos, só vemos o agora, queremos as coisas para ontem se possível. Temos uma visão tão limitada que não conseguimos enxergar como o tempo age. Com o tempo você vê aquela paixão que dilacerou seu coração se tornar insignificante. Você vê que aquele sonho de ter uma casa em Paris já não é sua prioridade. Vê que mesmo perdendo alguém você se acostuma com a saudade. Nem todos têm o mesmo período, mesmo a sociedade tentando padronizá-lo. Cada um tem a hora certa de crescer, de seguir em frente, de mudar os ares, de regar as flores, não depende de um fato social. Depende de outro fator: o destino. Particularmente acredito em destino. Não necessariamente alguma força maior fez nosso destino por nós, mas sim nossas escolhas nos levam a um fim e o destino nada mais é que os empecilhos que estarão no seu caminho. É a parte da nossa vida que não temos o mínimo controle, as situações que são impostas a nós. Seguir uma carreira ou virar hippie? Casar ou comprar uma bicicleta? O tempo, uma hora ou outra, nos imporá escolhas. O grande xis da questão é: acertar esse tempo. Justamente por cada indivíduo ter seu relógio psicológico, a maioria das vezes nosso relógio não está sincronizado com o das outras pessoas e aí meu caro amigo, começa o grande problema. Uma moça. Um rapaz. Ela mal viveu a vida ainda. Ele, um sonhador desvairado que já tem uma boa bagagem de histórias para contar, entre elas, bebedeiras, céus coloridos e uma diversão sem fim. Ela começa a sair. Ele começa a enjoar disso. Os dois se conhecem, se apaixonam. Ela se deslumbra com tudo que ainda não viveu. Nos fins de semanas os dois saem, ela se diverte como uma doida, ele observa, já sabendo onde tanta vodka vai resultar. Os meses passam e os dois continuam juntos, felizes, apaixonados, uma coisa bonita de se ver. Ela planeja entrar em uma faculdade daqui a alguns anos. Ele nem sabe o que vai fazer amanhã. Ele sai sem ela saber. Machuca-se. Ela o chama de irresponsável. Ele a chama de careta. Eles marcam de se encontrar. Ele se atrasa. Ela já se acostumou. Os dois saem de novo. Ela faz tudo o que tem direito. Ele se irrita. Os dois brigam. Ele pede desculpas. Saem de novo. Ele briga de novo. Por fim, acabam terminando, não por falta de amor, os dois realmente se amam, mas já não é o suficiente. Por algum motivo eles não se entendem, suas vidas não se encaixam. Tudo porque eles não se apaixonaram no momento certo. Não importa quanta vontade os dois têm de ficarem juntos. Já não adianta. Seus períodos psicológicos não estão na mesma órbita. Estão em colisão. E assim se perdem no maldito tempo, literalmente. Tudo por um mísero detalhe: um relógio mais adiantado que o outro.

Um comentário:

  1. Acho esse papo de querer dominar o tempo a idéia mais tola que alguem ja teve a proeza de conceber.

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