sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Aquela lágrima no peito. Sim, aquela, que não rola faz tempo, fica lá estagnada e não quer sair. E o pior de tudo. Ela cresce. Conforme você vai vivendo, - uma desilusão aqui, outro erro acolá - ela vai se alimentando. Mas você a contém lá, quietinha, no canto dela sem incomodar ninguém. Toca o bonde e nem dá atenção para ela, de repente desse jeito, você pensa, ela some. Mas não, ela continua ali, firme e forte. E você atura, já que não há nada a fazer. Não é como se tivesse uma cirurgia para consertar. A medicina é inútil nesses casos. No máximo irão te receitar um remédio tarja preta. Então vá lá, nem é tão ruim assim, ninguém a vê, não é verdade? Consegue fazer muito bem o seu papel de escondê-la. Quem te vê mostrando os dentes por aí não pensa que há algo errado com você. Cumpre as tarefas do dia como uma boa filha de Deus. Arruma um trabalho, arruma a casa, arruma tempo. Corre pra lá e pra cá para não se atrasar. Um fuminho nesse meio tempo quem sabe. Mas não pára, tem quem continuar, mesmo quando os problemas vêm. Que seja a morte, que seja o julgamento, que seja o amor. Você não sossega, empurra tudo para dentro e segue em frente. Isso vai se acumulando, aquela coisinha que nem te incomodava tanto vai ficando um tanto quanto desconfortável em seu peito, você nem vê, está tão ocupada. Tem que ser dura, afinal, não pode se mostrar uma mulherzinha que pede colo em qualquer adversidade que aparecer. Tem todo um contexto histórico por trás. Tantas mulheres que no passado foram maltratadas e subestimadas, agora é a hora de reaver o que foi perdido. Você tem que ser independente, não precisar nem da sua mãe, se for possível. Ela já tem os próprios problemas. Você se vira como pode tentando não prestar atenção naquela lágrima coagulada crescendo dentro de você. Porém a vida não te deixa em paz, põe aquele empecilho no seu caminho que te dilacera, te põe em frangalhos, mas você se agarra aos pedaços para não se desfazer. Uma última tentativa de continuar inteira. Contudo, ele aparece, lhe tira o fôlego, oh sim, como tira, mas te confunde também, te deixa louca, e, como se já não bastasse tudo que ele fez, os problemas nunca param de aparecer, e mesmo você tentando manter tudo sob controle, já não adianta, é um esforço em vão. Então a lágrima explode em um primeiro soluço de choro. Deixa todas as outras virem num jorro. A angústia se esvai em água que rola pelo seu rosto. Não consegue parar, não quer parar. O alívio que lhe invade é reconfortante por um momento. Então é para isso que aquela lágrima servia? Agora você entende. Quando finalmente consegue parar, seca o rosto, refaz a maquiagem, abre a porta do quarto e sorri para o espelho. Chorar não resolveu nada, mas serviu para te deixar mais leve e finalmente se livrar daquele caroço. E então você faz o que sempre fez: segue. Por fim descobre que aquela lágrima, sabe aquela que tinha sumido? Não, não sumiu, ela ainda estava ali, bem menor agora, depois de ter sido esvaziada, mas estava no mesmo teimoso lugar. E na próxima vez ela ainda vai estar lá. Os problemas ainda estarão te esperando, mas cada vez que não aguentares mais, agora você sabe, a teimosa vai estar lá para te libertar. Aí então você larga tudo por um tempo.... e chora.

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