Muito papo, pouca ação. Muito corpo pelado e coração tapado.
Frases feitas e a bunda na cadeira do computador. Nunca o sentido visual foi
tão utilizado como agora, se não é visto não é lembrado e se é visto é montado
na roupa simetricamente largada para dar um ar de descolado, ou no cenário que
demonstre o que querem passar, que geralmente é a mesma coisa: imagens de
momentos felizes pra fingir que sua vida também é assim, as micro-ondas cibernéticas
se tornaram uma segunda vida para substituir as frustrações da primeira. O supérfluo
se tornou bonito, a opinião dos outros virou mais importante e a construção de uma
imagem refletida sobre a retina alheia é o que manda na era moderna, e o que é interno
foi escondido e o deixaram vazio, fecharam as portas de dentro para enfeitar o
lado de fora. Difícil é não se deixar levar, sem hipocrisia, pois se falo dos
outros falo de mim também, afinal, faço parte desse todo. Mas lá no fundo bate
a angústia de querer ser diferente, de voltar às origens, de ser criança
novamente, quero ter esperança de que nem tudo está perdido, porém para isso é
preciso limpar-se de dentro para fora, tanto tempo acostumada a ser motivada
pelo ego torna mais difícil mudar os hábitos. É preciso mais do que mudar, é preciso
morrer. Temos que matar o que nos faz não sermos nós mesmos, mas sinto que não
estamos sozinhos nessa, há um poder maior, um plano direcionado para a evolução,
meta essa que parece tão distante em um mundo considerado real, onde você é
tirado para louco e antiquado se tenta ser menos materialista e ter princípios.
Cansa, porque não é rápido, muito pelo contrário, é uma morte lenta do eu, há
uma grossa e pesada camada de pensamentos e ilusões sobre o túnel interno de
luz a que devemos chegar, é uma guerra constante entre o leão e o cordeiro que
habitam dentro de nós. Falta por-se no
seu lugar para não olhar ninguém de cima para baixo, todos somos seres amedrontados
que tentam disfarçar seus traumas e enxergar os defeitos dos outros para
justificar os próprios, tentando assim sentirem-se melhor. Falta olhar além do
rosto e das formas do corpo e perceber, lá bem no fundo, a pureza da essência
divina que há em cada indivíduo. Falta humildade para reconhecer a futilidade
contida em nossas preocupações diárias, se tocar que elas passam e o tempo e
espaço continuam eterna e gigantescamente. Falta parar de lavar as mãos em
relação ao meio ambiente e reconhecer o nosso papel como animais e como
pequenos átomos de um organismo infinito. Falta respirar mais e pensar menos, é
necessário doar-se para se sentir leve, é crucial dançarmos a dança dos
chackras para finalmente abrir a consciência e perceber como tudo é
interligado, e para fechar a receita falta desapego, largar mão do orgulho, da
ira, da inveja, temos que voltar ao que é original, botarmos mais os pés no
chão, sentir a terra, o vento, sentir a chuva, o calor da luz. Nada disso é
fácil, mas está longe de ser impossível, pois fomos criados para isso,
resta-nos apenas recordar para despertamos de vez. No percurso da história até
hoje tudo foi ficando mais complexo, mas foi preciso passar por tudo isso para por
fim percebermos que a evolução encontra-se na simplicidade.
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